quinta-feira, 15 de novembro de 2012

104 ANOS DE UMBANDA

15 DE NOVEMBRO DE 1908 – 2012
-104 ANOS DE UMBANDA-
ZÉLIO FERNANDINO DE MORAIS

Dedicando integralmente o seu tempo ao atendimento aos necessitados, Zélio Fernandino de Moraes, médium que incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, o fundador da Umbanda no Brasil, desencarnou em outubro de 1975, aos 84 anos de idade. De seu trabalho incansável resultou a umbanda de hoje, que é sem dúvida, é a religião que mais cresce no Brasil.

Da atitude de Zélio de Moraes que, incorporado, declarou estar “faltando uma flor” , na mesa da Federação Espírita de Niterói, surgiu uma das curimbas (pontos cantados) mais belos da umbanda, que diz:

“Surgiu no jardim mais uma flor,

Mamãe Oxum trazendo paz e amor.

Que vai crescendo, pôr este imenso Brasil.

Bandeira branca de Oxalá, força do além,

Mãe caridosa que ao mundo deseja o bem...

vai sempre em frente em frente ,

ó minha umbanda querida,

leva a doçura da vida para aqueles que não têm !...”

Em fins de 1908, uma família tradicional de Neves, Estado do Rio de Janeiro, foi surpreendida pôr uma ocorrência que tomou aspecto sobrenatural: o jovem Zélio Fernandino de Moraes, que fora acometido de estranha paralisia, que os médicos não conseguiam debelar, certo dia ergueu-se do leito e disse “Amanhã estarei curado”.

No dia seguinte, levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada, antes, lhe houvesse tolhido os movimentos. Contava apenas dezessete anos e destinava-se a carreira militar na marinha.

A medicina não soube explicar o que tinha ocorrido. Os tios, que eram padres católicos, foram colhidos de surpresa e nada disseram sobre a misteriosa ocorrência.

Um amigo da família sugeriu, então, uma visita à Federação Espírita de Niterói, presidida por José de Souza, na época. No dia 15 de novembro de 1908, o jovem Zélio foi convidado a participar de uma sessão e o dirigente dos trabalhos determinou que ele ocupasse um lugar à mesa.

Tomado por uma força estranha e superior a sua vontade, contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, o jovem Zélio levantou-se e disse:

- Aqui está faltando uma flor!, e retirou-se da sala. Pouco depois, voltou trazendo uma rosa, que depositou no centro da mesa.

Essa atitude insólita causou quase um tumulto. Restabelecida a “corrente”, manifestaram-se espíritos, que se diziam de pretos escravos e de índios ou caboclos, em diversos, médiuns. Esses espíritos foram convidados a se retirar pelo presidente dos trabalhos, advertidos do seu atraso espiritual.

Foi então que o jovem Zélio foi novamente dominado por uma força estranha, que fez com que ele falasse sem saber o que dizia (De acordo com depoimento do próprio à revista Seleções de Umbanda, em 1975.).

Zélio ouvia apenas a sua própria voz perguntar o motivo que levava os dirigentes dos trabalhos a não aceitarem a comunicação desses espíritos e pôr que eram considerados atrasados, se apenas pela diferença de cor ou de classe social que revelaram ter tido na sua ultima encarnação. Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela mesa procuraram doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que estaria incorporado em Zélio e desenvolvia um argumentação segura.

Um dos médiuns videntes perguntou, afinal:

- Porque o irmão fala nesses termos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados são claramente atrasados? E qual é o seu nome irmão?

Respondeu Zélio, ainda tomado pela força misteriosa:

- Se julgam atrasados esses espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei em casa deste aparelho (o médium Zélio) para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar a sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E, se querem saber o meu nome, que seja este: “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, porque não haverá caminhos fechados para mim.

O vidente interpelou a Entidade dizendo que ele se identificava como um caboclo mas que via nele restos de trajes sacerdotais.

O espírito respondeu então:

- O que você vê em mim são restos de uma existência anterior. Fui padre e meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisiçãoem Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro.

- Julga o irmão que alguém irá assistir ao seu culto?, perguntou, com ironia, o médium vidente; ao que o caboclo das sete encruzilhadas respondeu:

- Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei!

Zélio de Morais contou que no dia seguinte, 16 de novembro, ocorreu o seguinte:

- Minha família estava apavorada. Eu mesmo não sabia explicar o que se passava comigo. Surpreendia-me haver dialogado com aqueles austeros senhores de cabeça branca, em volta de uma mesa onde se praticava para mim um trabalho desconhecido.

Como poderia, aos dezessete anos, organizar um culto? No entanto eu mesmo falara, sem saber o que dizia e por que dizia. Era uma sensação estranha: uma força superior que me impelia a fazer e a dizer o que nem sequer passava pelo meu pensamento.

- E, no dia seguinte em casa de minha família, na Rua Floriano Peixoto, 30, em Neves, ao se aproximar a hora marcada, 20 horas, já se reuniam os membros da Federação Espírita, seguramente para comprovar a veracidade dos fatos que foram declarados na véspera, os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e, do lado de fora, grande número de desconhecidos.

Às 20 horas, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que se iniciava naquele momento, um novo culto em que os espíritos de velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos de nossa terra poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse o credo e a condição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal desse culto, que teria pôr base o Evangelho de Cristo e, como Mestre Supremo Jesus.

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto: sessões, assim se chamariam os períodos de trabalho espiritual, diárias das 20 às 22 horas, os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito.

Deu, também, o nome desse movimento religioso que se iniciava; disse primeiro allabanda (ou um dos presentes assim anotou) mas considerando que não soava bem a sua vibratória, substituiu-o por Aumbanda, ou seja Umbanda, palavra de origem sânscrita que se pode traduzir por “Deus ao nosso lado”, ou “o lado de Deus”.

A casa de trabalhos espirituais, que no momento se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolhe o Filho nos braços, também seriam acolhidos, como filhos, todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.

Ditadas as bases do culto, após responder, em latim e em alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou á parte pratica dos trabalhos, curando enfermos, fazendo andar aleijados. Antes do término da sessão, manifestou-se um preto velho. Pai Antônio, que vinha completar as curas.

Segundo o jornal Gira de Umbanda (n.º 19 “As Verdadeiras origens da Umbanda do Brasil”), foi esse guia quem ditou o ponto hoje cantado no Brasil inteiro

“Chegou, chegou, chegou, com Deus ,

chegou, chegou

o Caboclo das Sete Encruzilhadas”.

Nos dias seguintes, verdadeira romaria se formou na Rua Floriano Peixoto, n.º 30, em Neves. Enfermos, cegos, paralíticos, vinham em busca de cura e ali encontravam , em nome de Jesus. Médiuns (cuja manifestações haviam sido consideradas loucuras) deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais. Estava fundada a umbanda no Brasil. 15 de novembro que serie posteriormente, dia nacional da umbanda .

Cinco anos mais tarde, manifesta-se o orixá Malé exclusivamente para a cura de obsedados e o combate aos trabalhos de magia negra (obs. Orixá, na realidade não incorpora, apenas manda sua vibração à terra, é comum no estado do Rio, trata-se de um guia espiritual pela denominação do orixá segundo Ivone Mangie Alves Velho, em seu livro Guerra de Orixá).

Dez anos após a fundação da Tenda Nossa Senhora da Piedade (registrada como tenda Espírita, porque não era aceito na época, o registro de uma entidade com especificação de umbanda), o Caboclo das Sete Encruzilhadas declarou que iniciava a segunda parte de sua missão: a criação de sete templos, que seriam o núcleo do qual se propagaria a religião da umbanda.

Em 1935,estavam fundados os sete templos idealizados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas , sendo curiosa a fundação do sétimo, que receberia o nome de Tenda São Gerônimo (a casa de Xangô). Faltava um dirigente adequado ao mesmo, quando numa noite de quinta feira, José Álvares Pessoa, espírita e estudioso de todos os ramos do espiritualismo, não dando muito crédito ao que lhe relatavam sobre as maravilhas ocorridas em Neves, resolveu verificar pessoalmente o que se passava.

Logo que assomou à porta da sala em que se reuniam os discípulos do Caboclo das Sete Encruzilhadas, este interrompeu a palestra e disse:

- Já podemos fundar a Tenda São Jerônimo. O seu dirigente acaba de chegar.

O Sr. Pessoa ficou muito surpreso, pois era desconhecido no ambiente. Não anunciara a sua visita e viera apenas verificar a veracidade do que lhe narravam. Após breve diálogo em que o Caboclo das Sete Encruzilhadas demonstrou conhecer a fundo o visitante, José Álvares Pessoa assumiu a responsabilidade de dirigir o último dos sete templos que a entidade criava.

Dezenas de templos e tendas porém, seriam criados posteriormente, sob a orientação direta ou indireta do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

GABRIEL MALAGRIDA

Gabriel Malagrida foi um missionário italiano jesuíta, nascido em Mennagio a 5 de Dezembro de 1689 e falecido em Lisboa, a 21 de Setembro de 1761 garrotado e queimado na fogueira.

Malagrida tornou-se jesuíta em 23 de Outubro de 1711, tendo partido para as missões no Brasil, em 1721.

Evangelizou os índios do Brasil, sobretudo nas regiões do Maranhão e do Pará. prosélito da fé e inflamado pregador, ficou afamado como o «apóstolo do Brasil», tendo passado pelo Maranhão, Pará, a Baía e Pernambuco.

Malagrida veio a Lisboa em 1750 e tendo aí assistido aos últimos momentos da vida do rei D. João V, tendo permanecido nessa cidade até 1751. Neste ano, regressou de novo ao Maranhão tendo aí estado até 1754, ano em que regressou definitivamente para Portugal a rogo de D. Mariana de Áustria. Este foi talvez o maior erro da sua vida, como veremos.

Muito religioso, aproveitou o terremoto de 1755 para exortar os lisboetas à reforma dos seus costumes. Acicatado pela explicação das causas naturais da catástrofe, que circulou em folheto mandado publicar pelo poderoso ministro do rei D. José I, o Marquês de Pombal, escreveu uma pequena obra chamada Juízo da verdadeira causado terremoto (1756) em que este se reputava de castigo divino e em que defendia que o infortúnio dos desalojados se consolava com procissões e exercícios espirituais.

O Marquês de Pombal, contudo, não gostou do que Malagrida escreveu e dando-se como aludido naquela obra, ele que não gostava de ser criticado, decidiu desterrá-lo para a cidade de Setúbal. Nesse desterro, Malagrida era visitado por muitas pessoas, e entre elas por membros da família Távora, tão odiada pelo marquês de Pombal.

O suposto atentado de 3 de Setembro de 1758, e o processo dos Távoras que se lhe seguiu, proporcionou a Pombal a ocasião para perseguir Malagrida ainda com mais severidade e denunciá-lo à Inquisição como falso profeta, impostor e, pior de tudo, de ser um herege, o que equivalia à morte na fogueira.

Septuagenário, alquebrado pelos trabalhos passados e pela prisão doentia, tornou-se demente, continuando a defender obstinadamente as suas crenças.

Entregue à Inquisição de Lisboa e após um processo, considerado por vários historiadores de algo grotesco, foi acusado de herege e posteriormente foi condenado ao garrote e fogueira no auto-de-fé de 21 de Setembro de 1761, tendo sido queimado no Rossio, a praça principal de Lisboa.
 
Fonte: Boletim informativo da Cabana Caboclo Rompe Mato, SP.

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