quarta-feira, 26 de junho de 2013

Distonias Espirituais: As Auto Obsessões

1. O ser humano na visão espírita

De acordo com a visão espiritista, o nosso universo material nada mais é do que o mundo dos efeitos, já que, em dimensões espaciais superiores, inacessíveis aos nossos sentidos físicos, encontra-se o campo livre da energia do espírito, o verdadeiro mundo das causas.

Allan Kardec, o respeitável sistematizador do Espiritismo, no discurso introdutório de “O Livro dos Espíritos”, acena com a realidade multidimensional do ser encarnado ao afirmar que o mesmo está constituído por três partes essenciais: o espírito, o perispírito e o corpo físico a se influenciarem mutuamente, muito embora, cada qual a vibrar na dimensão espacial que lhe é própria.

Portanto, o homem nada mais é do que um espírito encarnado (alma), precedente ao berço e sobrevivente ao túmulo, verdadeiro viajor cósmico a estagiar momentaneamente no Planeta Terra. Por ser um “continuum” espaço-temporal, o homem-espírito alberga em seu psiquismo de profundidade a memória extra cerebral, repositório perene de tudo aquilo que vivenciou em forma de experiências positivas e negativas no decorrer de toda a sua trajetória evolutiva.

2. As Leis que embasam a evolução

Ao lado deste raciocínio, pode-se aditar, ainda, outros fatores necessários à compreensão das distonias espirituais, como por exemplo as leis da Palingenesia ou Reencarnação e da Ação e Reação ou Causa e Efeito. A Reencarnação regula os nascimentos sucessivos de um mesmo espírito, verdadeira lei maior, a qual todos se encontram subordinados em seus anseios evolutivos. Já a lei da Causa e Efeito bem administra os valores morais incorporados ao nosso patrimônio espiritual, permitindo àquele que se encontra em dissonância com a harmonia universal, pelo mau uso do livre arbítrio, retornar ao seu equilíbrio inicial, mesmo que às custas de sofridas experiências tidas na conta de vivências expiatórias.

Este é o chamado paradigma espírita, e graças a ele, ampliamos a nossa compreensão das enfermidades ao examiná-las à luz da realidade transcendental dos seres.

3. As causas espirituais das enfermidades

Assim sendo pode-se dizer que a maioria das doenças experimentadas pelos homens é de gênese espiritual. Quando elas emergem da intimidade da própria alma são denominadas de patologias anímicas, caso contrário, são reconhecidas como obsessivas, desde que decorram de influenciações espirituais externas.

Allan Kardec, examinando as intrincadas questões da alma, propôs uma classificação dos distúrbios espirituais, considerando as seguintes possibilidades: obsessão simples, fascinação, subjugação e auto obsessão. A respeito desta última firmou o seguinte juízo em “Obras Póstumas”, item 58:

“As contrariedades, que mais comumente cada um concentra em si mesmo, sobretudo os desgostos amorosos, fazem cometer muitos atos excêntricos que se estaria errado em levar à conta da obsessão. Frequentemente, pode-se ser obsessor de si próprio.”

4. Conceito de auto obsessão

Na auto obsessão, é a própria mente em torvelinho que gera um verdadeiro estado de desequilíbrio patológico, de inadequação aos desafios cotidianos ou de comportamento imaturo a expressar o lamentável estado de penúria espiritual em que o estagiário terreno ainda se encontra.

5. Causas mais frequentes das auto obsessões


O homem, ante as solicitações costumeiras e os mais variados desafios existenciais, nem sempre se conduz com a dignidade e o equilíbrio desejáveis. Inebriado com os ouropéis da vida e, profundamente arraigado às viciações milenares que embrutecem o espírito, ora se deixa influenciar por impulsos primários, como a inveja, o egoísmo, a luxúria e o ciúme, ora se entrega a injustificáveis explosões coléricas, motivadas pelo cultivo prolongado da irritabilidade e da impaciência.

Na qualidade de autêntico enfermo da Alma, facilmente descontrola-se e comete atos de agressividade no trabalho, no trânsito e, infelizmente, na intimidade do próprio lar. Ofende aos seus entes queridos de maneira desnecessária, cria situações de constrangimento e tristeza e, às vezes, até de revolta entre os familiares, contribuindo, por fim, para a implantação da desarmonia doméstica por períodos bastante prolongados.

6. Causas complexas das auto obsessões

Mais adiante identificamos aquelas criaturas dotadas de uma personalidade menos estruturada e fragilizada em suas bases psicológicas. Revelam-se indecisas e sem vontade firmada. Habitualmente, diante da lida rotineira, se deixam enredar nas malhas de múltiplos desajustes por alimentarem insistentemente a terrível sensação de medo e insegurança, de uma forma obsessiva, chegando, mesmo em alguns casos, a desenvolverem complicada distonia mental, conhecida como Síndrome do Pânico, nem sempre bem equacionada pelos métodos terapêuticos tradicionalmente utilizados. São situações chocantes e bem caracterizadas, nas quais despontam os angustiados de todos os matizes, infelizes e sofredores por antecipação.

Tal contingente de auto obsidiados faz da preocupação exagerada a sua rotina de vida e, em meio ao desgastante comportamento neurótico, alimentam o temor de doenças imaginárias, o receio infundado com o bem-estar dos filhos, ou a ideia de que a qualquer momento, perderão os seus bens materiais. Formam o imenso exército de neuróticos crônicos, muito embora, por se acomodarem à situação vivenciada, pouco se esforcem para suplantar os maus pensamentos, as ideias hipocondríacas e as atitudes obsessivo- compulsivas, preferindo estagnarem na inércia moral a que habitualmente se entregam.

7. Ciúme – o câncer da Alma

Identificamos ainda significativa quantidade de criaturas excessivamente desconfiadas e portadoras de uma das mais graves formas de patologia anímica conhecida: - o ciúme - .

O ciumento é aquele indivíduo que, por estreiteza de visão, imagina insistentemente a possibilidade de estar sendo traído pelo cônjuge a quem tanto ama. E apesar do amor que verdadeiramente alimenta, falta-lhe a maturidade emocional para a convivência a dois. O ciumento não sabe expressar os seus sentimentos mais enobrecidos, graças à insegurança que o tortura interiormente, a ponto de agredir a quem diz amar sem nenhuma razão plausível, não medindo as consequências funestas de suas atitudes infelizes.

8. Educação evangélica como recurso terapêutico

Como vimos, múltiplas são as manifestações puramente anímicas de natureza auto obsessiva. Quase sempre, encontram-se relacionadas às deficiências educativas no contexto evolutivo do espírito. Constituem-se inegavelmente, tais atitudes imaturas, verdadeiras portas de entrada para as obsessões secundárias, induzidas pelos espíritos vingativos ou aproveitadores, com o fito de intensificar as más tendências individuais.

Daí o cuidado que se deve ter no comportamento habitual exercitado no decorrer da vida de relação. Impõe-se, por parte do ser inteligente, a necessidade de melhor gerenciar as emoções, identificar as propensões negativas e represar os impulsos inferiores, tentando substituí-los progressivamente pela vivência de sentimentos mais enobrecidos, tudo com a finalidade de aperfeiçoar a experiência terrena.

Por isso, as condutas aberrantes devem ser notificadas uma a uma, mediante análise conscienciosa da própria maneira de pensar e agir. Uma vez identificados os próprios defeitos, empenhar-se o indivíduo no esforço de reforma íntima, pois só a vivência evangélica, - considerada pelos psicólogos de vanguarda a maneira mais adequada de comportamento inteligente -, permitirá a substituição das atitudes menos felizes, típicas das auto obsessões, por padrões salutares e equilibrados de inter-relacionamento social.

Vitor Ronaldo Costa

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