Mais uma postagem referente ao livro "Purificação Emocional", de John Ruskan. O livro merece e deve ser lido por você, mas faremos algumas palhinhas por aqui, de partes muito interessantes.
Dessas partes, destaco o que ele fala sobre o PERDÃO. Nessas épocas em que a busca por ascenção espiritual tem sido a meta de muitos, em que muitos buscam espiritualizar-se cada vez mais, retornando ao seu Eu interior, acaba-se por ainda cair - e muito - nas armadilhas do Ego, interpretando de forma equivocada aquilo que os Mestres, Guias vém nos ensinar. O perdão é um desses equívocos. Não o fato e a urgência de se perdoar os outros pelas ofensas que pensamos que cometem contra nós. Conseguir perdoar de verdade alguém que nos magoou é uma grande vitória, visto o quanto é difícil, mas, ainda assim, é apenas mais uma manipulação do nosso Ego e também uma manifestação do nosso orgulho: "Sou tão espiritualizado e superior que sou capaz de perdoar o fulano que me maltratou". Então, prepare-se para uma grande surpresa... os nossos Mestres nos ensinam que devemos perdoar porque é o mais fácil!
No livro Purificação Emocional, John Ruskan aponta o fato de que o mundo externo é a materialização do nosso mundo interno. Que as nossas vivências e as atitudes dos outros perante nós são as projeções de nossas emoções estagnadas, de nossos sentimentos suprimidos e cuidadosamente estocados no nosso inconsciente. Partindo da premissa da pluralidade das existências, os equívocos cometidos por nós em encarnações pretéritas surgem como faltas no presente pedindo retificação, quando nós mesmos, inconscientemente, buscando a reparação dos erros cometidos. Porém, essa reparação também vem de uma forma equivocada. Como diz Joanna de Angelis, o remorso é o arrependimento tardio, gerando a culpa - que, para piorar, é muito cultuada por nossa sociedade ocidental, galgada na cultura judaico-cristã. A culpa é um sentimento auto-destrutivo e não é um sentimento primário, que pode levar tanto à vitimização (quando se acredita que o outro ou mesmo o mundo é o responsável por nossa mazela pessoal), quanto ao espírito de réu que deve ser duramente punido. Ambos resultados da culpa se projetam no mundo. Na "vítima" criando situações em que ela parece mesmo ser vítima das circunstâncias ou dos outros; no "réu" criando-se situações degradantes que sirvam-lhe de punição.
Resumindo: Não é o outro ou o mundo que me agride, me pressiona, me prende. O outro está reagindo a um sentimento meu, suprimido no inconsciente. E fazemos isso mutuamente. Portanto, não há vítimas ou réus, logo não há culpados a serem perdoados.
Então, nesse caso, o auto-perdão é que deve ser exercido, quando não aceitamos os nossos equívocos e nos punimos por isso. Nos auto-perdoar transformará o mundo, pois movimentará aquela energia estagnada que foi criada pelo sentimento suprimido, fazendo com que complete o seu ciclo de vida e se desfaça.
Voltando ao início. Perdoar é ensinado porque é mais fácil. Mais fácil do que olhar para dentro de si mesmo e se assumir, e assumir que somos responsáveis por aquilo que criamos. Somos responsáveis, inclusive, pelos acidentes que sofremos, pelas dificuldades que enfrentamos. Encarar isso e aceitar é, realmente, muito mais difícil do que "simplesmente" perdoar o outro.
@patkovacs.
O perdão é a percepção de que a acusação é um erro.
O perdão é, sem dúvida, uma qualidade desejável, mas muitas vezes compreendemos mal seu significado. Perdão significa finalmente ver que a outra pessoa não foi de fato responsável pelo que pensamos vir dela. Às vezes, tentamos nos forçar a perdoar, achando que estamos sendo espirituais ou amorosos, ou numa simples tentativa de evitar a dor. Continuamos acreditando que o outro é responsável pelo que nos aconteceu, mas o perdoamos por sua conduta.
Tal "perdão" é intelectual, falso e auto-enganador. Perdemos ainda mais contato com a experiência interior. Ele pode até inflar o Ego, pois achamos que fomos bastante generosos para perdoar. O verdadeiro perdão consiste em entender que a acusação original foi falsa, e não em conceder o perdão por um mal que acreditamos erroneamente nos ter sido infligido.
A acusação é particularmente relevante na dinâmica pai-filho, intensamente focalizada pela terapia tradicional. Somos encorajados a perdoar nossos pais, muitas vezes sem entender que deveríamos assumir nosso passado. Esse tipo de terapia pode funcionar a longo prazo, mas a questão é: outra abordagem mais realista funcionaria mais eficazmente? Já discutimos que escolhemos nossos pais e o ambiente inicial para servirem de catalisadores de nossa personalidade. Os eventos da infância ativam o que já está latente no subconsciente da criança, um ponto de vista discutido e apoiado por psicólogos transpessoais atuais.
Muitas vezes, negamo-nos a abandonar a acusação devido a nada mais do que o orgulho. Inconscientemente, entendemos a verdade de que somos responsáveis por nossa experiência. O egoísmo consicente, porém, quer acusar porque está se defendendo. Ele não quer sentir que poderia ser bastante tolo para prejudicar a si mesmo. É da natureza do ego, e de uma pessoa altamente egocêntrica em particular, sempre ter razão, e é pela acusação que o sentimento de superioridade costuma ser cultivado.
A auto-acusação, ou culpa, é uma variação sobre a dinâmica da acusação básica. Ao nos acusarmos, protegemo-nos em nível mais profundo, assim como acusar os outros protegerá o Ego da percepção de sua responsabilidade por sua experiência.
John Ruskan, Purificação Emocional.
Editora Rocco, 2001.
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