terça-feira, 30 de agosto de 2011

Caboclos Boiadeiros

A música Disparada, de Jair Rodriguês, vencedora do Festival da Música de 1966 é, ao meu ver, uma canção inspirada e que muito bem pode ser uma ode aos Caboclos Boiadeiros. Leia a música transcrita logo abaixo e analise-a sob a ótica Espírita. Após a letra, vém os textos referentes à essas queridas entidades da Umbanda, os Boiadeiros.

Jair Rodrigues

Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar, eu vivo prá consertar
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
Não por um motivo meu, ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei
Então não pude seguir valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você não concordar não posso me desculpar
Não canto pra enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu querer ir mais longe do que eu

Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
Já que um dia montei agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte num reino que não tem rei


Caboclos Boiadeiros

O corpo começa a estremecer, o coração bate mais forte e a força, a coragem, a determinação, a sabedoria, a seriedade e a alegria tomam conta do mental e do emocional do médium que rapidamente gira, começando a dançar e a movimentar seu chicote e ao gritar: “Ô! Boi” demonstrando o vigor e a força do Boia­deiro, agora em terra. O plano astral inferior estremece, não se tem mais como escapar do laço do Boia­deiro que rapidamente envolve todos os seres negativos que perturbam o médium e a Casa Santa. Com amparo de Ogum, seu Orixá protetor, o boiadeiro encaminha todos esses malfeitores para o domínio da Lei, onde serão refreados e re­di­re­cionados com a grande oportunidade de Evolução, demonstrando um grande trabalho de caridade e principalmente de amor ao próximo.

Boiadeiro na Umbanda são entidades espirituais de homens que se ligam ao trabalho no campo, na rudeza da condução do gado, operam nos terreiros com seu laço e seu grito característico capturando espíritos decaídos e kiumbas que atormentam os consulentes, encaminhando-os para guias espirituais de socorro destes seres desencarnados.

São espíritos ligados à vida de vaqueiros, posseiros, capatazes, e espíritos afins. Sabem que a prática da caridade os levará a evolução, trabalham incorporados na Umbanda. Fazem parte da linha de Oxossi, como Caboclos que são, agindo em diferentes funções.

Formam uma linha de espíritos que assumem roupagem espiritual mas ligados à modernidade do que os caboclos índios que representam em suas manifestações os povos indígenas, portanto mais primitivos.

São seguros nas suas incorporações, com gestos velozes e pouco harmoniosos. Sua maior finalidade não é o aconselhamento, embora alguns o façam, e sim o “dispersar de energia” aderida a corpos, paredes e objetos. É de extrema importância essa função pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o teor das aconselhamentos essa linha “sempre” atenta a qualquer alteração de energia local (entrada de espíritos).

Quando bradam alto e rápido, que é uma ação mantrica, estão, na verdade, ordenando a dispersão de energias pesadas e negativas, e obrigando espíritos sombrios que entraram no local a se retirarem.  Assim, “limpam” o ambiente para que a prática da caridade continue sem alterações, já que a presença dessas energias muitas vezes interferem nos aconselhamentos mediúnicos.

Os espíritos sombrios atendem a boiadeiros pela demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são levados por eles para locais próprios de doutrina.

Outra grande função de um boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes. Costumam proteger demais seus médiuns nas situações perigosas. “Gostar” para um boiadeiro, é ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é considerado por ele “filho”. Pois ser filho de boiadeiro não é só tê-lo na coroa mediúnica.

Os Boiadeiros vêm dentro da Linha de Oxossi, dos Caboclos. Eles são entidades que representam a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do sertão, “o caboclo sertanejo”. São os Vaqueiros, Boiadeiros, Laçadores, Peões, Tocadores de Viola. O mestiço Brasileiro, filho de branco com índio, índio com negro e assim vai.

Representam, misticamente, os que sofreram preconceitos, como os “sem raça”, sem definição de sua origem. Ganhando a terra do sertão com seu trabalho e luta, mas respeitando a natureza e aprendendo, um pouco com o índio: suas ervas, plantas e curas; e um pouco do negro: seus Orixás, mirongas e feitiços; e um pouco do branco: sua religião (posteriormente misturada com a do índio e a do negro, sincretismo) e sua língua, entre outras coisas.

Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.

No Terreiro os Boiadeiros vêm “descendo em seus aparelhos” como estivessem laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente de trabalho e vibração.

Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência.
Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros ”e no descarrego, no passe e no preparo dos médiuns.

Os Boiadeiros em seus trabalhos bebem vinho ou marafo (aguardente) e fumam cigarro, cigarro de palha e charutos.

Gostam de bebida forte como por exemplo cachaça com mel de abelha, que eles chamam de meladinha, mas também bebem vinho. Fumam cigarro, cigarro de palha e charutos.

Alguns usam chapéus de boiadeiro, laços, jalecos de couro, calças de bombachas, e tem alguns, que até tocam berrantes em seus trabalhos. Nomes de alguns boiadeiros:
Boiadeiro da Jurema, Boiadeiro da Mina, Boiadeiro do Lajedo, Boiadeiro do Rio, Carreiro, Boiadeiro do Ingá, Boiadeiro Navizala, Boiadeiro de Imbaúba, João Boiadeiro, Boiadeiro Chapéu de Couro, Boiadeiro Juremá, Boiadeiros Menino, Zé Mineiro, Boiadeiro do Chapadão, etc …

Sua saudação: Jetruá Boiadeiro, Xetro Marrumbaxêtro

Via: Flecha de Luz - www.cruzeirodaluz.org 
 Sobre os Boiadeiros

Em nossa última passagem pela Terra fomos filhos da terra, aqueles que dela viveram, dela extraímos a raiz de cada dia, o alimento da família e a esperança.
Montado no lombo de um cavalo ou boi pastávamos não os animais, mas ao som do berrante era possível berrar ao Pai Criador que olhasse por nós.
Eu fui peão, cuidei de muitas fazendas e deixei muitos fazendeiros ricos, estranhamente não respingava no meu bolso a pataca que no deles enchia. Tampouco me queixava disso, afinal, não saberia viver com luxo, gostava mesmo da rede amarrada no batente da simples varanda, ali eu podia descansar meus ossos.
Pra que se tenha mais entendimento, nós somos os verdadeiros sertanejos, aqueles que vivem na ferida do Brasil, é uma chaga que não se fecha e com o andar da carruagem periga que esta chaga tome o corpo todo desta terra varonil.
Não vou ficar a falar de minha pessoa e nem desta realidade brasileira, vou logo palestrar sobre nós como amigos trabalhadores do mundo invisível.
Parece que a linha dos boiadeiros é nova, mas não é não. Já manifestávamos em terreiros, tendas e barracões de muitas variantes do culto afro. No Catimbó é mais notável nossa presença.
Quando começou o movimento Umbanda no Astral é que nos organizamos e aguardamos a oportunidade de aparição dos terreiros deste culto. Assim foi ocorrendo de forma regional até que nos alastramos por todos terreiros de Umbanda.
Mas engana-se aquele que hoje pensa que esta linha de trabalho é composta por homens e mulheres da terra. Nem todos, aqui tem uma mistura grande.
Também tem o machista que prega não existir mulher na linha boiadeiros, então o que faríamos com as amazonas? Ou tantas "Marias Bonitas" que guerrilharam por uma vida melhor???
Outro tanto de companheiros nesta linha são Ex-Exus, ou seja, espíritos que atuaram no Grau Exu, lá nas esferas mais baixas e que após receber a graça de se graduar na luz tem que passar por uma linha transitória. Eis a chave do nosso "mistério". Boiadeiro enquanto Grau é um Grau de transição para espíritos que aguardam seu alocamento mais definitivo.
Neste período vamos trabalhando na Lei, colocando ordem na fronteira do meio fio entre luz e trevas, já esta tênue linha existe dentro de cada um de nós, logo a oportunidade de trabalhar a ordem na fronteira, nos nossos semelhantes encarnados e desencarnados é a forma que o Criador achou para que nós pudéssemos fortalecer a ordem dentro de nós mesmo.
Com nosso laço, visto pelos clarividentes, este serve para buscar os zombeteiros e perturbadores. Nossa corda é infinitamente "elástica" e de onde estivermos se localizarmos um ponto negativo e um perturbador, dali lançamos o laço e no laço quebramos o mal.
Somos comumente chamados nos terreiros para limpeza pesada, pois somos mesmo aquele que retira a carga pesada, quando batemos nosso pé e gritamos nosso boi, não sobra mal algum em nosso redor.
Por fim nosso arquétipo é o sertanejo, o brasileiro do sertão, quer seja o guerrilheiro lampião ou o tocador de gado. No entanto nem todos foram assim.Vou tocando meu gado por aqui e desejo que o Criador lhe ilumine!



Getuá Boiadeiros!

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