Existem Seitas Patológicas?
O problema das crenças, seitas ou religiões como vê Fusswerk-Fursay (1975, 1980), resvala tanto no ponto de vista filosófico, como no ponto de vista psicopatológico, já que a saúde psíquica implica em um trânsito livre entre o conhecimento e a fé, entre a objetividade e subjetividade, entre a dúvida e a certeza. Uma das funções fundamentais do ser humano é a sublime capacidade de crer, inclusive como uma das condições de nossa própria sobrevivência e desenvolvimento.
A crença será sempre um risco, uma submissão de nosso desconhecido em favor do conhecimento do outro, será a disponibilidade ou credibilidade de um em aceitar a convicção ou o discurso do outro. As seitas que proporcionam uma espécie de “controle mental”, ou seja, que proporcionam uma contaminação do fanatismo estariam promovendo algum tipo de sofrimento, de angústia, de perda da liberdade, seja no crente ou nos demais.
Supondo verdadeiro o fato das pessoas procurarem apoio religioso proporcionalmente à angústia que as aflige, algumas seitas têm uma clientela garantida pelas mazelas do cotidiano, pelos sofrimentos emocionais ou pela angústia existencial, cada vez mais comum em nosso meio.
Essas pessoas angustiadas, ou que tenham alguma fragilidade emocional são as prováveis predispostas a deixarem se influenciar pelas crenças e seitas esdrúxulas. E não faltam religiões que tentam tornar a vida mais compreensível e suportável, auxiliando as pessoas a se orientarem dentro de seus contextos problemáticos, recorrendo a toda sorte de demônios e mandingas, enaltecendo a crença no mau-olhado, encosto, etc.
O aspecto mórbido ou patológico dessas crenças está no sofrimento causado pela falsa esperança, na expectativa frustra e mesmo protelação de tratamentos médicos necessários. Um dos perigos mais contundentes desses Cultos de Aflição é tentar alterar, para a pessoa, o significado de algum sintoma ou alguma doença, minimizando indevidamente uma depressão grave, uma esquizofrenia, etc.
Esses cultos costumam ter um cardápio das especialidades terapêuticas da igreja conforme o dia da semana; às segunda, retirada de encostos, às terça, doenças incuráveis, e assim por diante (Ricardo Mariano, 2001).
Mesmo assim, não é lícito considerar-se unicamente a eventual patologia das religiões, reconhecendo esta ou aquela seita como doentia, mas podemos sim examinar os caracteres gerais da crença e do comportamento do religioso. O comportamento religioso se determina pela fé e se expressa por um rito, por uma liturgia que congrega em torno de si uma comunidade, cuja finalidade é sustentar essa mesma comunidade religiosa em sua relação pessoal com Deus.
Assim sendo, existem alguns comportamentos religiosos (liturgias) comuns à quase todas religiões, como por exemplo, a oferenda, o sacrifício e a purificação.
Principalmente nas religiões proféticas e monoteístas, como é o caso do judaísmo, cristianismo e islamismo, a liturgia visa estabelecer algum vínculo entre o Deus transcendente e o homem pecador. Em geral o estigma do homem religioso é aquele “justo” e que “teme a Deus”, que descobre sua falta e se arrepende, é um pecador que receberá o perdão.
Cientificamente, entretanto, não podemos considerar uma religião ou seita patológica, ainda que seja demasiadamente esdrúxula em seus cultos e liturgias. Trata-se de uma questão lógica, pois a patologia é um atributo das pessoas e não das associações, seitas, agremiações, etc, no entanto, podemos dizer que existem algumas seitas ou religiões patogênicas, ou seja, capazes de desencadear ou agravar quadros psicopatológicos em pessoas predispostas ou circunstancialmente vulneráveis.
(Continua...)
para referir:
Ballone GJ, Ortolani, IV - Transe e Possessão - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005.
Ballone GJ, Ortolani, IV - Transe e Possessão - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005.
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